42 presidência da FUNAI por descumprimento de decisão judicial.118 O órgão indigenista apresentou Suspensão de Liminar argumentando que estava priorizando a demarcação de terras indígenas nas regiões sul e sudeste e que a sentença iria de encontro a este planejamento causando “grave lesão à ordem administrativa”.119 O presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região acatou o argumento e suspendeu a sentença em 24 de agosto de 2014120, frustrando a expectativa do povo Munduruku, que vive grande incerteza em relação ao seu futuro, ainda que a Constituição Federal ordene a proteção das terras tradicionalmente ocupadas, independentemente da etapa do processo administrativo de demarcação em que se encontre. Apenas em abril de 2016, em meio ao processo de impeachment da Presidente da República, Dilma Rousseff, deu-se a publicação no Diário Oficial da União do relatório de identificação da Terra Indígena Sawré Muybu. Esse processo mostra que no Brasil se inverte a lógica do licenciamento ambiental, impondo às comunidades locais a condição de obstáculos a empreendimentos. O governo agiu de má fé ao chamar o povo Munduruku para iniciar um processo de consulta e agendar o leilão da Usina e, ao mesmo tempo, negar-se a finalizar a demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu121. 118 Disponível em: http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2015/justica-multa-funai-por-nao-cumprir-ordem-para-seguir-demarcacao-de-terra-indigena-munduruku 119 O argumento apresentado judicialmente não condiz com a realidade, considerando que os dois últimos RCIDs publicados pela Funai dizem respeito a Terras Indígenas localizadas justamente na Amazônia: Terra Indígena Cobra Grande (disponível em: http:// www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/3447-funai-publica-os-estudos-da-terra-indigena-cobra-grande-pa) e Terra Indígena Kayuana-Tunayana. Disponível em: http://www.funai.gov. br/index.php/comunicacao/noticias/3482-funai-publica-estudo-da-terra-indigena-kaxuyana-tunayana 120 Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B5j1BfJM6nwPMGQ4R29SZXNoVUU/view?usp=sharing 121 O presidente da Funai, em reunião com os Munduruku, atribuiu a não publicação à óbice apresentado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que mantém uma unidade de conservação nas proximidades do território reivindicado. A informação foi desmentida pela presidência do ICMBio. A postura também evidencia má fé no diálogo com os indígenas. Disponível em: http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2015/icmbio-confirma-ao-mpf-que-nao-se-manifestou-sobre-sawre-muybu Caráter livre A Convenção 169/OIT e a jurisprudência internacional também exigem que a consulta aos povos indígenas e tribais ocorra de maneira livre de qualquer pressão. Isso significa que os sujeitos interessados não podem ser coagidos para decidirem em determinado sentido, quer seja pelo poder do Estado, pelo uso da força, por pressão de empresas ou pelo oferecimento de vantagens pessoais. A decisão de um povo indígena ou tribal deve ser tomada de maneira livre, consciente e como resultado de um processo de discussão interna, de acordo com suas formas de organização, seus usos, costumes e tradições. Na sequência, discutiremos dois exemplos de práticas do governo brasileiro que frustram o caráter livre da consulta prévia. O primeiro se refere à militarização da tentativa de consultar o povo Munduruku com relação ao projeto da UHE São Luiz do Tapajós. A postergação da obrigação de consultar e as demonstrações de má fé do governo brasileiro, discutidas no subitem anterior, prejudicaram a relação com o povo Munduruku. Em 21 junho de 2013, biólogos contratados pelo empreendedor coletavam amostras para a confecção do Estudo de Impacto Ambiental quando foram retidos pelos índios.122 Os Munduruku afirmam terem encontrado materiais de pesquisa em seu território e condicionaram a liberação dos pesquisadores à realização de consulta. Dois dias depois, o governo se comprometeu a suspender os estudos e a iniciar o processo de diálogo123 e os pesquisadores foram liberados. Porém, o governo federal lançou a “Operação Tapajós”, enviando centenas de agentes da Força Nacional de Segurança para a região, com o objetivo de garantir a continuidade dos estudos ambien122 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HHXywvYbw_k 123 RODRIGUES, Alex. “Mundurukus libertam biólogos após governo anunciar suspensão de estudos sobre Rio Tapajós”. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-06-24/ mundurukus-libertam-biologos-apos-governo-anunciar-suspensao-de-estudos-sobre-rio-tapajos

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