© Helena Palmquist/MPF-PA 20 Representantes do Povo Munduruku em ato de protesto na frente do Palácio do Planalto, 2013 As decisões referentes à Usina Hidrelétrica do Tapajós também asseguram o direito à consulta das comunidades tradicionais afetadas pelo projeto. O Estudo de Impacto Ambiental aponta que a obra irá afetar de maneira grave o povo Munduruku e dezenas de comunidades tradicionais, como Montanha e Mangabal, São Luis e Pimental. O mesmo estudo,no entanto, adota a heteroidentificação e não reconhece São Luis e Pimental como comunidades tradicionais37. Por isso, as decisões judiciais reconheceram o direito de estas comunidades tradicionais terem processos específicos de consulta. Importante destacar que as comunidades de Montanha e Mangabal tiveram a ocupação tradicional do território reconhecida pelo governo federal por meio da criação de um projeto agroextrativista (PAE). As próprias comunidades de Montanha e Mangabal entendem que devem ser reconhecidas como sujeitos coletivos dos direitos estabelecidos na Convenção 169/OIT e, em exercício de sua autonomia, elaboraram e publicaram seu “Protocolo de Consulta”, no qual reivindicam sua condição e estabelecem os procedimentos que o governo deve respeitar para desenvolver processos de consulta com eles: “Porém, não se pode afirmar que são populações tradicionais nos termos da Lei Nº 111.284 (Lei de Gestão de Florestas Públicas)... ou como define o Decreto Nº 6.040, Art. 3º, Inciso 1, Povos e Comunidades Tradicionais...” (EIA, Vol. 7, pág. 120). 37 Nós não somos invisíveis e não abrimos mão do nosso lugar. No passado, os grileiros diziam que ninguém vivia em Montanha e Mangabal, mas lutamos e conseguimos que nosso direito à terra fosse reconhecido. Agora, é o governo quem diz que não existimos e planeja construir barragens no rio Tapajós sem nem nos consultar. Mas sabemos que a lei garante nosso direito à consulta prévia e exigimos que ele seja cumprido. Aqui, neste beiradão, nós nascemos e nos criamos. Pegamos malária, enfrentamos as cachoeiras, cortamos seringa, caçamos gato, pescamos, fizemos nossas roças. Foi assim nossa lida. À beira do Tapajós, enterramos nossos pais e nossos filhos.38 A mencionada UHE de São Luiz do Tapajós teve seu licenciamento negado pelo órgão ambiental Federal em agosto de 2016 devido à insuficiência técnica dos estudos de impacto ambiental apresentados. Adicionalmente, a Funai manifestou-se pela inconstitucionalidade do projeto. Mesmo assim, o governo federal, interessado no leilão do empreendimento, continua ignorando o direito à consulta das comunidades tradicionais e não adotou qualquer medida para dar início ao processo de diálogo. De fato, ao anunciar o arquivamento do processo de licenciamento ambiental, representantes do estado brasileiro afirmaram ter sido realizada consulta livre, prévia e informada com o povo Munduruku39, fato duramente rechaçado pelos indígenas. No final de 2014, em reunião com lideranças de Montanha e Mangabal, funcionários da então Secretaria Geral da Presidência da República admitiram que o governo não consultaria as comunidades tradicionais afetadas: 38 Íntegra do Protocolo está disponível em: http://www.consultaprevia.org/#!/documento/321 39 Relatório do Governo Brasileiro apresentado durante a 33a Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em resposta ao Relatório da Relatora Especial da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas sobre sua visita ao Brasil.

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